domingo, 3 de maio de 2009

Uma Terra De Sonho


Sally Brown
Escriba

Aborrecida, estava eu no pequeno e insípido hall de entrada do meu dentista, quando, subitamente, uma pequena criatura, chamado João Pestana, com grande impacto, invadiu a minha mente e o meu corpo.
Já no sétimo sono, começo a sentir pequenos tufos de algodão sob os pés, uma onda de vento quente a bater-me na cara, os meus lábios saboreiam um aroma a primavera e, quando abro os olhos, fico perplexa com a paisagem à minha volta.
Para minha felicidade, já não me encontrava naquele hall odiável, mas sim no que parecia ser uma terra de sonho; as flores abriam e brilhavam com a luz do sol como mil diamantes numa gruta, sentia-me extremamente relaxada e feliz, mas ao mesmo tempo perturbada por desconhecer onde estava.

Nisto, observei em detalhe o que me rodeava, simplesmente lindo. Havia flores de varias cores e feitios, que pareciam acabadas de brotar dum imenso sono, e com pequenas gotas de água, que se destacavam de um cetim magnífico, largado pelo grandioso sol, bastante vistoso na sua presença. O lindo rio largava um som de pura sensação aos meus ouvidos, a sua corrente cristalina viajava para longe, onde o horizonte a escondia. Os meus longos cabelos voavam ao sabor da brisa, é tudo tão belo, até os meus fios de cabelo aparentavam ser de seda. Incrível vislumbre diamante, tudo parece deslumbrar num flamejo brilhante, é tudo somente único.
Ao fundo, destaca-se uma casa em madeira, não muito grande, mas fica tão bem nesta paisagem de puros sentimentos.

A fachada principal é composta por uma longa varanda pintada de um branco puro e por um azul celestial. Ao prestar mais atenção, verifiquei que no longo espaço havia uma cadeira baloiçante que rangia ao baloiçar. Nela estava sentada uma estranha criatura: um sapo de cor azul petróleo, vestido a rigor com um fraque preto, escuro como breu. Na ponta do nariz, tinha uns óculos com armação em metal mais redondos que os seus próprios olhos e na cabeça tinha uma cartola branca.
Bastante desolado, estava agarrado a um lenço cor de papoila lilás, a limpar as suas pequenas lágrimas e a assoar o seu minúsculo e feio nariz.

Aproximei-me passo a passo do estranho ser, que soltava lágrimas devido a um bocejar de cansaço. Chegando-me perto, cumprimentei de olhos arregalados:
- Boa tarde! – exclamei, sem resposta obtida – Boa tarde! – Numa nova tentativa, dei conta que o estranho sapo despertara exaltado de um leve sono, observando quem lhe falara. Levantou-se muito depressa, olhou-me e disse, muito atrapalhado:
- Desculpe! Não era por intenção…er…estava só a descansar um pouco. – Muito perturbado, foi a correr para dentro de casa e, quando voltou, trazia uma chave. Era uma chave nunca imaginada por mim. Tinha uma decoração muito elegante e as suas dimensões eram fora do vulgar, do tamanho de um braço, mais ou menos.
- Vamos, menina, vamos! – disse-me ele muito apressado, descendo as curtas escadas da varanda. Fiquei um pouco assustada quando se aproximou de mim, porque era uma criatura feia. Perguntei, de seguida, dando um passo atrás:
- Aonde é que vamos? – ao que me respondeu, sem hesitação alguma.
- Aos seus aposentos, ficam no meio do rio! - agarrou-me pelo braço e levou-me, num passo muito apressado.

Ainda sem saber o que estava a acontecer, e também um pouco enojada por estar a ser tocada no braço pelas patas pegajosas do sapo, fui arrastada até aos meus supostos aposentos. Fiquei confusa quando cheguei ao local, porque a única coisa que lá havia era o rio e a sua corrente. Por isso, tive a ousadia de lhe perguntar – O senhor vê aqui alguns aposentos? É que eu só vejo um lençol de água. – Muito irritadiço, respondeu – Menina! Não diga disparates! – e, com esta resposta, o rio começou a separar-se em duas partes e, do meio, começou a erguer-se um objecto de forma estranha. Os meus olhos não queriam acreditar naquilo que viam!
À medida que se erguia, a sua forma ganhava contornos claros: era uma pequena esfera, que brilhava como um cristal, feita dum material transparente e cristalino, que parecia ser vidro. Logo de seguida, ergueu-se à sua frente uma ponte do mesmo material. Hesitante, mas encorajada pelo meu estranho companheiro, que me levava pela mão, iniciei a travessia até ao outro lado, arrastada pelo passo estugado do sapo, em direcção à misteriosa esfera transparente.
Ao chegarmos aos “meus” aposentos, uma miniatura de libelinha desenhou na esfera um rectângulo. Deduzi que fosse a porta, pois o tal rectângulo abriu-se de súbito. De olhos esbugalhados, fiquei paralisada em frente à entrada: nunca tinha visto nada assim!

Entrei mais o meu escuro companheiro dos óculos redondos e logo fiquei de queixo caído! Era completamente deslumbrante, tudo mudara de cor; nas paredes, aquele material que eu desconhecia transformara-se num azul-turquesa e, no tecto, continuava perceptível, provavelmente para poder observar o céu, este maravilhoso paraíso. O Sr. Sapo apresentou-me o resto da linda habitação, sempre muito simpático e despachado. No fim, já na porta por onde tinha entrado, dava-me a chave para as mãos, uma réplica da original.
- Espero que a menina goste deste seu espaço. Agora, com a sua licença. – virou as costas e quase correu dali para fora, na direcção de onde viéramos.
Com todos os acontecimentos repentinos, decidi deitar-me, descansar um pouco. Subi umas escadas em caracol, que me levaram até à parte superior do lar, onde esperava por mim uma cama arranjadinha. Estendi-me a observar. O céu adormecia em escuro e a lua vinha substituir a sua metade, o escaldante astro-rei e, enquanto tudo nascia naquele manto suave, pequenos pontos começavam a flamejar, pouco a pouco, até o luar conquistar todo este fantástico mundo, de sonhos, vidas, alegria, beleza...Os olhos cerravam-se, devagar, pesados, um pirilampo surgia, no seu luzido piscar de energia; a minha vista continuava a deixar-se ir pela quietude do lugar mais incrível.
Quase, quase a adormecer…

Entretanto, começo a sentir uma certa dormência no corpo todo. De seguida, um cheiro estranho a desinfectante invade-me as narinas, os meus ouvidos queixam-se de um certo ruído, abro os olhos inchados e sonolentos e “Oh, não”! Encontro-me outra vez naquele hall mínimo quadrado, enclausurada pelas paredes brancas do consultório. A cara corada e bonacheirona do dentista observa-me: – Menina, menina! Acorde. É a sua vez de entrar – Ao ouvir isto, pressinto que toda aquela magia não passou dum sonho, tudo foi em vão…
Entro para o consultório e...desolada com a situação, sofro mais um bocado…

3 comentários:

  1. Ora ora...as descrições são de vista grossa. =)

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  2. Muitos parabéns pelo trabalho. Gostei muito! se todas as idas ao dentista fossem assim.... :)

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  3. Está melhor, meu caro, está melhor.

    Cheers!

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