quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Miséria, Vénias, Ases…


Amicizia Vero
Escriba

Quando pensas ter todas as respostas
A vida surge e muda as perguntas.
Quando vivemos com um fardo às costas
Difícil é aguentar de pernas juntas.

Quanto mais me odeias, mais te amo...
E mais me odeio por te amar,
Quem sabe, odeio-me por que te chamo
A cada minuto que é o meu luar.

Sentido de flor flamejante
Luzindo primor constante
Este amor quente e único
Este véu apaixonante…

Ah, vida árdua de misérias!
Ó sol meu, o que me trazes?
É o amor em breves vénias
Que me elucida os ases.

14/10/09

domingo, 3 de maio de 2009

Odaliscas De Vício


Escriba
Sally Brown


Existem vários tipos!
Por vezes são esbeltas e novas…
Que apreciam velhos ricos
E em seus bolsos cavam covas.

Trocam desejos por pagamentos
Têm coragem de leão.
Têm os seus próprios "mandamentos"
São prostitutas de ocasião…

Os seus corações são sofridos
De vidas desconhecidas
Corpos explorados são feridos
Calcados de longas idas

Noite trabalhada de saídas
Fregueses de vastas bancas
Matrizes de prazer, moídas,
São gastos em vícios de ancas.

04/05/09

Uma Terra De Sonho


Sally Brown
Escriba

Aborrecida, estava eu no pequeno e insípido hall de entrada do meu dentista, quando, subitamente, uma pequena criatura, chamado João Pestana, com grande impacto, invadiu a minha mente e o meu corpo.
Já no sétimo sono, começo a sentir pequenos tufos de algodão sob os pés, uma onda de vento quente a bater-me na cara, os meus lábios saboreiam um aroma a primavera e, quando abro os olhos, fico perplexa com a paisagem à minha volta.
Para minha felicidade, já não me encontrava naquele hall odiável, mas sim no que parecia ser uma terra de sonho; as flores abriam e brilhavam com a luz do sol como mil diamantes numa gruta, sentia-me extremamente relaxada e feliz, mas ao mesmo tempo perturbada por desconhecer onde estava.

Nisto, observei em detalhe o que me rodeava, simplesmente lindo. Havia flores de varias cores e feitios, que pareciam acabadas de brotar dum imenso sono, e com pequenas gotas de água, que se destacavam de um cetim magnífico, largado pelo grandioso sol, bastante vistoso na sua presença. O lindo rio largava um som de pura sensação aos meus ouvidos, a sua corrente cristalina viajava para longe, onde o horizonte a escondia. Os meus longos cabelos voavam ao sabor da brisa, é tudo tão belo, até os meus fios de cabelo aparentavam ser de seda. Incrível vislumbre diamante, tudo parece deslumbrar num flamejo brilhante, é tudo somente único.
Ao fundo, destaca-se uma casa em madeira, não muito grande, mas fica tão bem nesta paisagem de puros sentimentos.

A fachada principal é composta por uma longa varanda pintada de um branco puro e por um azul celestial. Ao prestar mais atenção, verifiquei que no longo espaço havia uma cadeira baloiçante que rangia ao baloiçar. Nela estava sentada uma estranha criatura: um sapo de cor azul petróleo, vestido a rigor com um fraque preto, escuro como breu. Na ponta do nariz, tinha uns óculos com armação em metal mais redondos que os seus próprios olhos e na cabeça tinha uma cartola branca.
Bastante desolado, estava agarrado a um lenço cor de papoila lilás, a limpar as suas pequenas lágrimas e a assoar o seu minúsculo e feio nariz.

Aproximei-me passo a passo do estranho ser, que soltava lágrimas devido a um bocejar de cansaço. Chegando-me perto, cumprimentei de olhos arregalados:
- Boa tarde! – exclamei, sem resposta obtida – Boa tarde! – Numa nova tentativa, dei conta que o estranho sapo despertara exaltado de um leve sono, observando quem lhe falara. Levantou-se muito depressa, olhou-me e disse, muito atrapalhado:
- Desculpe! Não era por intenção…er…estava só a descansar um pouco. – Muito perturbado, foi a correr para dentro de casa e, quando voltou, trazia uma chave. Era uma chave nunca imaginada por mim. Tinha uma decoração muito elegante e as suas dimensões eram fora do vulgar, do tamanho de um braço, mais ou menos.
- Vamos, menina, vamos! – disse-me ele muito apressado, descendo as curtas escadas da varanda. Fiquei um pouco assustada quando se aproximou de mim, porque era uma criatura feia. Perguntei, de seguida, dando um passo atrás:
- Aonde é que vamos? – ao que me respondeu, sem hesitação alguma.
- Aos seus aposentos, ficam no meio do rio! - agarrou-me pelo braço e levou-me, num passo muito apressado.

Ainda sem saber o que estava a acontecer, e também um pouco enojada por estar a ser tocada no braço pelas patas pegajosas do sapo, fui arrastada até aos meus supostos aposentos. Fiquei confusa quando cheguei ao local, porque a única coisa que lá havia era o rio e a sua corrente. Por isso, tive a ousadia de lhe perguntar – O senhor vê aqui alguns aposentos? É que eu só vejo um lençol de água. – Muito irritadiço, respondeu – Menina! Não diga disparates! – e, com esta resposta, o rio começou a separar-se em duas partes e, do meio, começou a erguer-se um objecto de forma estranha. Os meus olhos não queriam acreditar naquilo que viam!
À medida que se erguia, a sua forma ganhava contornos claros: era uma pequena esfera, que brilhava como um cristal, feita dum material transparente e cristalino, que parecia ser vidro. Logo de seguida, ergueu-se à sua frente uma ponte do mesmo material. Hesitante, mas encorajada pelo meu estranho companheiro, que me levava pela mão, iniciei a travessia até ao outro lado, arrastada pelo passo estugado do sapo, em direcção à misteriosa esfera transparente.
Ao chegarmos aos “meus” aposentos, uma miniatura de libelinha desenhou na esfera um rectângulo. Deduzi que fosse a porta, pois o tal rectângulo abriu-se de súbito. De olhos esbugalhados, fiquei paralisada em frente à entrada: nunca tinha visto nada assim!

Entrei mais o meu escuro companheiro dos óculos redondos e logo fiquei de queixo caído! Era completamente deslumbrante, tudo mudara de cor; nas paredes, aquele material que eu desconhecia transformara-se num azul-turquesa e, no tecto, continuava perceptível, provavelmente para poder observar o céu, este maravilhoso paraíso. O Sr. Sapo apresentou-me o resto da linda habitação, sempre muito simpático e despachado. No fim, já na porta por onde tinha entrado, dava-me a chave para as mãos, uma réplica da original.
- Espero que a menina goste deste seu espaço. Agora, com a sua licença. – virou as costas e quase correu dali para fora, na direcção de onde viéramos.
Com todos os acontecimentos repentinos, decidi deitar-me, descansar um pouco. Subi umas escadas em caracol, que me levaram até à parte superior do lar, onde esperava por mim uma cama arranjadinha. Estendi-me a observar. O céu adormecia em escuro e a lua vinha substituir a sua metade, o escaldante astro-rei e, enquanto tudo nascia naquele manto suave, pequenos pontos começavam a flamejar, pouco a pouco, até o luar conquistar todo este fantástico mundo, de sonhos, vidas, alegria, beleza...Os olhos cerravam-se, devagar, pesados, um pirilampo surgia, no seu luzido piscar de energia; a minha vista continuava a deixar-se ir pela quietude do lugar mais incrível.
Quase, quase a adormecer…

Entretanto, começo a sentir uma certa dormência no corpo todo. De seguida, um cheiro estranho a desinfectante invade-me as narinas, os meus ouvidos queixam-se de um certo ruído, abro os olhos inchados e sonolentos e “Oh, não”! Encontro-me outra vez naquele hall mínimo quadrado, enclausurada pelas paredes brancas do consultório. A cara corada e bonacheirona do dentista observa-me: – Menina, menina! Acorde. É a sua vez de entrar – Ao ouvir isto, pressinto que toda aquela magia não passou dum sonho, tudo foi em vão…
Entro para o consultório e...desolada com a situação, sofro mais um bocado…